Durante uma palestra no âmbito do European Cyber Security Month, o novo Executive Director Operations da Claranet Portugal destacou o papel cada vez mais preponderante das pessoas no sucesso dos projetos de Transformação Digital.
Alexandre Ruas, Executive Director - Operations, Claranet Portugal
“As pessoas representam um pilar estrutural em qualquer processo de transformação. No caso concreto da transformação digital, por se tratar tipicamente de um programa transversal a todas as áreas e com impacto na cultura organizacional, as pessoas revelam-se ainda mais críticas para o seu sucesso”.
A ideia foi defendida por Alexandre Ruas durante uma conferência promovida pela Comissão Europeia e organizada pelo Centro de Informação Europe Direct (CIED) da Madeira, inserida na série de "Conversas com quem sabe".
Foram ainda abordados vários tópicos associados a tecnologia e futuro das organizações, como a movimentação para a Cloud, a definição de estratégias de dados, a inteligência artificial ao serviço de operações e negócio, ou ainda, inovação do posto de trabalho. Neste contexto, segundo Alexandre Ruas, “as empresas procuram ser cada vez mais industrializadas de forma a serem eficientes na resposta à procura, mas flexíveis para serem centradas nas necessidades específicas dos clientes”.
O executivo reforçou ainda que “é mandatório que os programas de transformação digital, mais ainda quando assentam numa base de experimentação e inovação interna, sejam acompanhados por uma estratégia de cibersegurança estruturada nas várias vertentes, como, por exemplo, processos, pessoas e tecnologia”.
Para dar corpo ao mote de que a transformação Digital não é apenas tecnologia, o Executive Director Operations da Claranet desfiou alguns dos fatores que considera críticos, com impacto direto e indireto no sucesso da jornada digital e seus resultados.
A direção, a comunicação e a cooperação
Saber onde se quer chegar, quais os benefícios de lá chegar e comunicar esses pontos de forma positiva é um fator crítico de sucesso. “Os profissionais de hoje são os mais bem preparados da história da humanidade e os que vêm a caminho ainda mais preparados estarão. A informação está acessível a todos e é fácil aprofundar matérias. Por isso, torna-se fundamental trabalhar no plano de transformação de forma integrada e participativa. Paralelamente é fundamental apontar de forma clara a direção e saber comunicar respeitando e reconhecendo o trabalho passado, sem provocar disrupção” sugere Alexandre Ruas.
A habilidade para manter organizações estáveis em tempo de mudança é a chave para garantir a colaboração interna e um ecossistema de confiança no futuro. É igualmente crítico que as organizações se apoiem e suportem em parceiros estratégicos, especialistas, capazes de adicionar valor durante a geração de ideias, planeamento e na fase de implementação.
Investimento e autonomia
A necessidade de um budget e autonomia na gestão do mesmo tornou-se fundamental para o sucesso da implementação dos programas digitais. Para o Executive Director da Claranet, “muitas ações ficam bloqueadas por falta de aprovação ou patrocínio de alto nível, gerando enorme frustração no terreno e incentivando os detratores. Enquanto uma parte da organização continua, corretamente, focada e atarefada com as atividades diárias que garantem os resultados de curto/médio prazo, é absolutamente fundamental que esses mesmos atores não contribuam para a redução da velocidade dos programas de transformação nem criem barreiras no caminho, mesmo que inconscientemente”.
Segundo o site Statista, no triénio 22-24 a estimativa de gasto em tecnologia e serviços associados à transformação digital será superior a 7 T$. “Este valor é demasiado elevado para termos, segundo estudo da BCG, 70% de casos onde os objetivos definidos não foram atingidos na sua plenitude”, acrescenta Alexandre Ruas.
A experiência do utilizador
Outro dos fatores destacado durante a palestra está associado aos novos modelos de negócio, assentes cada vez mais em plataformas digitais. “A desmaterialização, em muitos casos associada à “remotização”, e acelerada pela pandemia, acabou por obrigar grandes empresas a alterações significativas das suas estruturas de atendimento, venda ou logística, por exemplo, redefinindo lógicas de funcionamento e trazendo novos desafios às operações”. Ainda segundo Alexandre Ruas, “passa a ser vital incorporar dois pontos na agenda de trabalho - o da experiência de utilização (UX) e o da segurança”.
O representante da Claranet, pegando no conceito “Modern Customer Journey da ChannelSight” reforçou a ideia de que 67% da jornada do comprador já está alicerçada no digital, que em 2020 pela primeira vez a experiência de utilizador superou o preço e o produto como fator diferenciador na hora de comprar, e que, 86% dos compradores estão disponíveis para pagar mais se isso se refletir numa melhor experiência de utilização.
Perante estes dados, Alexandre Ruas defendeu:
Há ainda um trabalho muito grande a fazer na automação e inteligência das plataformas de apoio ao consumidor, mais quando os estudos indicam que 75% dos consumidores esperam ter resposta imediata a um pedido efetuado.
Segurança e reputação
Desde o início da pandemia vários especialistas apontam para um crescimento exponencial em todo o tipo de ataques possíveis, cenário que Alexandre Ruas confirma. “Numa rápida análise aos dados fornecidos pela Fortinet, constatamos que os eventos relacionados com malware cresceram 358% durante 2020 e o uso de ransomware aumentou em 435% comparado com o ano pré-pandémico”. Sendo sabido que “as empresas se viram obrigadas a acelerar a sua estratégia digital, muitas vezes sem estarem preparadas, foi-se criando um cenário fértil para o aumento dos ciberataques”.
Como exemplo Alexandre Ruas indica o setor da banca ou dos serviços públicos, cujos balcões de atendimento estiveram encerrados durante parte do confinamento, mas que sentiram necessidade de continuar a prestar os seus serviços mais críticos - ou mesmo vitais -, para garantir continuidade de negócio e alguma normalidade na sociedade e economia.
“Se analisarmos o ranking das sete empresas mais valiosas em outubro, em termos de MarketCap, seis são americanas”. Isto leva os unicórnios portugueses a quererem estar sediados nos Estados Unidos, “numa Europa que claramente está a perder território, mesmo em sectores onde tradicionalmente somos fortes, como o automóvel”.
Para dar resposta a estes e outros temas, a Comissão Europeia apresentou, em março deste ano, uma visão e percursos para a transformação digital da Europa até 2030, tendo sido identificados quatro pontos chave: Competências, Infraestruturas, Serviços Públicos Digitais e Digitalização das empresas.
Esperemos que o PRR possa ser uma ferramenta propulsora para Portugal, mas sobretudo um meio e não um fim.
O conhecimento
Alexandre Ruas terminou a sua intervenção sobre a Transformação Digital alertando para a escassez de capital humano com as skills tecnológicas necessárias - em Portugal e na Europa – para concretizar a necessária revolução tecnológica nas organizações, reforçando que “Portugal deve continuar a investir estruturalmente e de forma agregada na diminuição do défice, podendo ser inclusivamente um fator de competitividade futura”.
Face aos cerca de 800 mil profissionais de TI em falta na Europa, o representante da Claranet advogou “uma aposta forte nos projetos de reskill e upskill dos profissionais, por um lado, bem como uma aproximação ainda maior entre o tecido empresarial, instituições e academia, assegurando aprendizagem e aumento de maturidade entre programas”.
“É necessário um plano estruturante, de base, com o envolvimento de todos, mas sobretudo, com espírito de missão” – concluiu.